sexta-feira

6-junho-2025 Ano 1

A ginástica e a luta das atletas que sonham com a seleção

Não é raro as atletas da ginástica rítmica brasileira enfrentarem desafios com patrocínios e investimentos. São poucas as que chegam ao “Sonho Olímpico” e à chance de representar o país.  

 Por Fernanda Cunha, Isabela Frutuoso, Lavinya Rienzo e Maria Baldassari    

Ginastas do Clube Juventus em sua preparação. Foto: Lavinya Rienzo/Agenzia. 

Assim como milhões de brasileiros, durante a pandemia, Manuela Rezende se viu distante da possibilidade de fazer exercícios físicos e socializar. Aos oito anos, incentivada pela mãe, iniciou remotamente na ginástica rítmica. Hoje, aos treze, ela continua treinando e competindo, representando o Brasil em diversos campeonatos, como o Sul-americano, por exemplo.  

Qual foi o principal motivo que a incentivou a continuar no esporte para competir em um nível elevado, mesmo após o fim da pandemia e tendo que enfrentar vários percalços ao longo do caminho? Quais são os principais obstáculos enfrentados por ela e por diversas atletas neste esporte?  

Na ginástica rítmica, é preciso um treinamento intenso para alcançar as categorias competitivas. De acordo com pesquisa divulgada pela Editora da Universidade Estadual de Maringá, o processo de formação esportiva das atletas pode ser dividido em: experimentação, especialização e os anos de investimento. Mas de que maneira conciliar a rotina de treinos com a vida escolar, pessoal e social? E como conseguir manter a constância no esporte tendo que lidar com questões tanto psicológicas quanto físicas? 

Os desafios do “Backstage” 

 “Eu não tinha nada para fazer na pandemia, minha mãe não queria que eu ficasse sedentária, a gente procurou alguma coisa para eu fazer e eu fiz as aulas online da escolinha daqui. Aí eu estou até hoje e agora estou no treinamento.”, diz Manuela Rezende, atleta do SERC São Caetano do Sul.   

Manuela começou sua vida esportiva encorajada por sua mãe a praticar alguma atividade física. Juntas, elas foram em busca de algo que chamasse a atenção da garota para se exercitar. Em 2020, em meio à pandemia, encontraram aulas online de ginástica rítmica, o que foi apenas o primeiro passo para a caminhada de Manuela Rezende até as competições do esporte que acabou se tornando uma das partes mais importantes de sua vida. 

Um aspecto a ser destacado para a permanência e realização esportiva das atletas é o apoio dos pais, principalmente no início da jornada. Segundo pesquisa publicada pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte, existem diferenças no apoio que pais e mães prestam à suas filhas, mas ambos são igualmente relevantes. A pesquisa traz que, em sua maioria, os pais das atletas participam mais na questão financeira do esporte e na questão de manter as filhas firmes na prática. Por outro lado, as mães participam mais diretamente na vida esportiva das filhas, organizando a rotina, levando-as aos treinos, cobrando a disciplina e estruturando projetos diversos juntamente de outras mães. 

Ao conversar com a ginasta artística do Clube GAPP, Lívia Marcon, ela fala exatamente sobre a importância do apoio dos pais logo no começo do sonho de suas filhas de se tornarem grandes atletas. Segundo a ginasta, é importante que os pais conversem com as meninas e tentem ajudá-las da melhor maneira possível, pois muitas vezes, o sonho se inicia quando as atletas são muito novas e nem têm consciência do que precisarão enfrentar para conseguir alcançar seu objetivo. 

Assim como a grande maioria das atletas que competem em um alto rendimento, Manuela Rezende começou sua jornada no esporte muito cedo. Desde nova, ela precisou entender que teria que organizar a rotina intensa de treinos com outras atividades em sua vida se quisesse mesmo alcançar o ponto mais alto do esporte. Porém, de que forma fazer uma atleta tão jovem entender a importância de organizar suas tarefas para que possa dar o seu melhor sem se esgotar dia após dia? 

Em entrevista com a treinadora de ginástica rítmica e ex-atleta, Fabiana Rubini, ela diz: “Por conta dessa responsabilidade que elas adquirem desde pequenas, porque elas começam muito novas, a maioria começa com 8 anos no mínimo, tem meninas que começam mais novas ainda. Então elas já vão seguindo a vida sabendo que é dessa forma, então não se torna uma coisa pesada […]”. 

Embora as atletas se acostumem com uma rotina cansativa e puxada desde que começa a treinar pensando em competir em alto nível, é preciso perceber os impactos de toda essa correria tanto na saúde física quanto na saúde mental. A ginástica é um esporte que faz com que as atletas estejam numa posição psicológica, embora sempre trabalhada com o auxílio de profissionais, muitas vezes instável. No período de competições existe o já esperado e conhecido nervosismo e o frio na barriga para o “grande dia”. Mas existe também a pressão externa que as ginastas sofrem e a auto comparação com outras atletas. Por isso, é muito importante que exista um acompanhamento com psicólogos para que as atletas possam, dar seu melhor no treino e ficar bem consigo mesmas e com sua rotina, que é tão exigente. 

Lívia Marcon, atleta de ginastica artística, fala sobre a pausa que precisou fazer em seus treinos devido ao esgotamento físico de seu corpo: “Eu só não acordava. Minha mãe me chacoalhava de manhã e eu não acordava de cansaço. […] O corpo começou a acordar a hora que ele achava que eu tinha descansado o suficiente. E aí só não funciona mais.  Eu não consegui acordar para ir treinar.  Então não foi nenhuma escolha.” 

A ginástica sendo uma aliada  

Por mais desafios que se deparem ao longo de sua trajetória, além de medalhas em competições, as atletas de ginástica rítmica também ganham muita experiência para sua vida pessoal. 

Bianca Reis, atleta de ginasta rítmica, prestes a realizar uma importante viagem para a Bulgária para participar do Campeonato “The Diamonds of Sofia”, diz: “Eu espero muito que dê tudo certo na competição e que a gente traga muitos aprendizados para casa.”. 

A ginástica traz diversos aprendizados que serão levados para a vida toda das jovens ginastas. Ao entrar em um centro de treinamento para se preparar para atingir competições de alto nível e seguir seus sonhos, as atletas desenvolvem disciplina, comprometimento e constância. Entretanto, estes atributos também serão de extrema importância outras áreas da vida, seja na escola, faculdade, relacionamentos ou trabalho. 

“Na minha concepção, é muito mais fácil você se relacionar e fazer amizades com pessoas do esporte.  São pessoas que acabam tendo um pouco mais de empatia, um pouco mais de cooperação. […] Então, na questão social, acaba que é muito mais fácil você fazer amizade com pessoas que são do esporte.”

A saúde mental é um dos benefícios que a ginástica rítmica agrega na vida das esportistas, pois ao fazer algo de que gostam, têm uma sensação de bem-estar e prazer. Além disso, passam a conhecer pessoas e fazer amizades, o que é extremamente benéfico para o desenvolvimento de cada uma. 

A atleta Bianca Reis, do SERC de São Caetano do Sul, começou o esporte apenas como um hobbie. Porém, ao conhecer cada vez mais pessoas neste meio, foi chamada para fazer uma seletiva, conseguiu passar e segue competindo até hoje em grandes torneios nacionais e internacionais. 

Outra vantagem deste esporte é na questão da saúde física. Fazer qualquer tipo de exercício físico é muito importante para que todos vivam bem e saudáveis, assim, a ginástica rítmica pode entrar como uma opção para quem quer iniciar no mundo dos esportes. A ginasta artística Lívia Marcon destaca a importância da prática de qualquer tipo de atividade física, sendo na área da ginástica ou não. A atleta comenta sobre os benefícios para a saúde que os esportes trazem, como condicionamento físico, mobilidade e maior disposição no futuro. 

Fabiana Rubini, treinadora de ginástica rítmica, diz: “Quando é um esporte de alto rendimento vai existir dor, vai existir lesão e vai se acostumar com a dor. Mas por outro lado, com a vida que os jovens levam hoje, acredito que estar dentro de um ginásio, […] sem estar no celular o tempo inteiro e com a mente ocupada para que não faça outras coisas que os pais não querem.”. 

Além de tudo isso, existem as realizações esportivas das atletas, nos campeonatos dos quais participam. Este é um ponto também muito importante na carreira das ginastas, pois mostra que depois de todo o esforço e empenho que tiveram inicialmente valeram a pena para conseguir alcançar o que mais queriam: competir pelo esporte que amam. 

“A minha maior realização foi ganhar o Conjunto de cinco fitas nos Jogos Panamericanos Júnior. E o meu brasileiro de Individual em 2019, que eu fiquei em segundo lugar no geral.”, diz Bianca Reis sobre suas maiores realizações no esporte até o momento. A jovem ginasta vai sempre em busca de aprimorar suas técnicas nos treinos, sempre dando o seu melhor para crescer cada vez mais no esporte. 

Observa-se então, que o esporte auxilia as ginastas a se autoconhecerem melhor, além de se relacionarem com mais facilidade com diversas pessoas, agora mais habituadas a questões de humanidade e cidadania. Aprendem novos hábitos para sua saúde geral e aprimoram qualidades já existentes, tudo isso com um melhor condicionamento físico por estarem se exercitando constantemente.  

Como os auxílios impactam na carreira das ginastas?  

A vida das atletas de ginástica rítmica não é perfeita. Um obstáculo enfrentado pelas ginastas é o custo que o esporte traz. O preço médio de uma aula de ginástica rítmica em São Paulo é de R$66,00. O valor pode variar dependendo da experiência e dos conhecimentos técnicos do professor, da frequência das aulas e dos equipamentos disponibilizados ou não na academia ou centro de treinamento. 

Além disso, são necessários diversos equipamentos, como arcos, fitas e o collant, por exemplo, que possuem um alto custo. Não é incomum entre as professoras, as famílias e as próprias alunas da comunidade da ginástica rítmica, organizarem ações a fim de arrecadar fundos para as necessidades das atletas.  

O principal auxílio concebido aos atletas no Brasil é o Bolsa-Atleta, criado em 2004. Na ginástica rítmica, atletas da classe “Pódio” podem chegar a receber até R$16.629,00 por mês, já atletas “Base”, recebem R$410,28. As ginastas têm direito ao Bolsa-Atleta a partir dos 14 anos, o que já é de grande ajuda. Ao chegar na adolescência, muitas vezes, garotas cujas famílias não possuem condições financeiras estáveis já precisavam começar a trabalhar, abandonando os treinos. Com o Bolsa-Atleta, porém, as ginastas estão recebendo ajuda financeira para treinar, o que realmente ajuda a manter muitas atletas dentro do esporte, prolongando suas carreiras também. Mas seria o Bolsa-Atleta suficiente para os atletas que competem em grandes competições nacionais e internacionais?  

Sobre a criação de mais auxílios para o esporte, a treinadora de ginástica rítmica, Fabiana Rubini fala da inexistência de auxílios voltados para os treinadores, que são quem está por trás do sucesso dos atletas. Ela também comenta sobre a pouca visibilidade da base do esporte e da falta de investimentos no esporte como um todo, principalmente por se tratar de um esporte que não se encontra tanto em evidência no Brasil quanto outros.  

Então, é de extrema importância que os profissionais envolvidos no esporte recebam algum tipo de auxílio, pois em toda a jornada das ginastas, desde o seu início, existem foco e dedicação totais, para que a atleta chegue ao seu máximo e consiga atingir o alto rendimento. Também é preciso que a ginástica rítmica tenha mais visibilidade e reconhecimento, para que, assim, o esporte evolua em questão de alcance na mídia e conquistas em competições. É necessária essa evolução para que, por mais que passem por percalços ao longo do caminho, as ginastas consigam seguir no esporte, alcançar seus sonhos e objetivos e ter o reconhecimento que merecem, por sua dedicação e por representarem seus clubes, seu país e seu povo. 

Lavinya Rienzo

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